sábado, 27 de março de 2010

([Ritos de Passagem Femininos])

"Agora deixem que a água leve toda sujeira- entoaram as jovens, pegando água e despejando-a sobre as meninas.- Deixem que a água dissolva todos os laços que as prendiam, e que seja lavado tudo o que ocultava o verdadeiro eu de vocês...Sintam a carícia da água em seus corpos e lembrem-se da água de onde nasceram. Da flor brota o fruto e do fruto brota a semente - cantaram as mulheres.- Ao morrer, nasceremos de novo, e enterradas nos libertamos...Nascendo e renascendo, passando, retornamos...Libertando, tudo nos é dado, renunciando, aprendemos...."
[[_l_]] trecho do livro Os Corvos de Avalon de Marion Zimmer Bradley

Os Ritos de Passagem tem a função não só de unir um clã, incluindo os jovens numa comunidade, mas festejar as mudanças e passagens da vida, e preparar psicologicamente aqueles que ainda não passaram por essas transformações, para que compreendam e vivenciem plenamente esse momento.

Fato é que com ou sem um Rito de Passagem...nós cresceremos e passaremos por todas as fases da vida. Mas o que ocorre é que sem os Ritos temos maior dificuldade. E acontece muitas vezes de se permanecer imaturo mesmo em idade avançada...é uma iniciação incompleta...pois arrastamos a infância para a adolescência...e a adolescência para a vida adulta...sem reconhecer e distinguir o próprio Eu do bolo de informações e influências que recebemos desde que nascemos.

Sabe-se que o culto a Deusa Mãe já no período neolítico sempre esteve relacionado aos Mistérios Femininos. Nossas ancestrais criaram rituais para celebrar o nascimento de uma nova vida, para celebrar a menarca e para celebrar a gestação. Os antigos celebravam a maturidade dos garotos nos Mistérios Masculinos, onde eles enfrentavam alguma prova de coragem como enfrentar um animal selvagem, ou sobreviver sozinho num lugar desconhecido. Casamentos...separações...a morte, todas essas passagens marcantes da vida eram celebradas para marcar na memória do grupo que aquele momento era especial e sagrado, para libertar "aquilo que foi" para que "se possa ser" de uma nova forma.

Diz-se que nas antigas culturas matriarcais da Índia, do Egito, de partes da Ásia e da Turquia- que parecem ter influenciado o nosso conceito da alma feminina por milhares de quilômetros em todas as direções- a transmissão da henna e de outros pigmentos vermelhos às mocinhas, para que pudessem tingir os pés com eles, era uma característica fundamental dos ritos de passagem. Um dos ritos de passagem mais importantes tratava da primeira menstruação. Esse rito celebrava a travessia da infância para a profunda capacidade de gerar vida no próprio ventre, de dispor do poder sexual resultante e de todos os poderes femininos periféricos. A cerimônia apresentava o sangue em todos os seus estágios: o sangue uterino da menstruação, o do parto, o do aborto, todos escorrendo na direção dos pés.
[[_l_]] trecho do livro Mulheres Que Correm Com Os Lobos.


Pensando sobre isso...lembrei de quando estudei sobre a Deusa neolítica, estátuas, pinturas, sobre os ritos funerários pré-históricos. Me lembrei de que sempre havia presente objetos com um pigmento vermelho ocre, sendo que os arqueólogos classificaram esses objetos, por ter essa coloração e estarem em locais que indicavam algum tipo de culto, como sagrados. Sempre achei lindas aquelas tatuagens temporárias que chamam de henna (ou mehndi), e fui estudar mais sobre elas. Então associei uma coisa com a outra! Com certeza havia alguma ligação sagrada com aquelas tatuagens e a Deusa! Quem não viu, visitando uma loja esotérica, aquelas "mãos de Fátima", ou Chamsa, Hamsa, "mão de Deus", "mão de Miriam", "mão Judaica" e por ai vai?
Esse é um talismã hoje usado no islã, judaismo, como amuleto contra mau olhado. É muito popular no Egito e pode ser encontrada nas lojinhas feitas de diversos materiais, desde joias como pingentes até azulejos. Mas não tem nenhuma evidencia histórica desse talismã relacionado com essas religiões, e até mesmo no islamismo é vetado o uso de talismãs ou amuletos.
Aqueológicamente esse é um talismã muito antigo, usado como escudo contra o mau-olhado, havendo indícios de que era um símbolo fenício associado a Deusa Tanit, Deusa chefe de Cartago, cuja mão ou vulva afastava o mal. Mas o símbolo da chamsa lembra muito uma mão pintada com henna...

A henna hoje em dia é usada (na Índia, nos países árabes, Turquia, Curdistão , etc), como muitos dos símbolos antigos da Deusa, para celebrar casamentos (a noite da henna), parto e pós-parto; para proteger a mãe e o filho, e depois pra purificar, e após a menstruação; para purificar a mulher (porque nessas culturas patriarcais, tudo que tenha a ver com a mulher e seus ciclos é impuro).

Como sabemos, as culturas da Deusa foram suprimidas pelo patriarcado, mas ao contrário do que muitas bruxas pensam, o patriarcado não começou com o cristianismo ou judaismo...ele começou no próprio paganismo. Se prestarmos atenção nos mitos gregos, romanos, nórdicos, mediterraneos e até mesmo celtas, veremos como já ali o culto da Deusa estava sujeitado de alguma forma a um "Deus superior", ou seu poder era tomado de forma ardilosa e trapaceira.

no próximo post [Henna Geográfica e Arqueológica]

Um comentário:

Luciana Onofre disse...
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