terça-feira, 5 de janeiro de 2010

[Morrigan]


(...)Pollio foi até a casa de Boudica após a morte do marido dela...Prasutagos. Segundo a lei romana, uma mulher não pode governar soberana como rainha. A intenção dele era casar-se com ela, pois desde muito tempo era apaixonado pela senhora dos cabelos flamejantes, a rainha dos icenii. Também desejava casar as filhas dela com cidadãos romanos....tudo para que os malditos romanos tomassem a Bretanha e suprimissem todo tipo de revolta.

-Não. - Ela puxou o braço, sorrindo para demonstrar alguma piedade
-Você não entende! Casarei com você! - Ele a agarrou novamente, puxando-a para si.
-É você que não entende...- A voz dela era baixa e perigosa. -Fui mulher de um rei, de um homem parecido com o próprio Deus Bom! Não irei para a cama com você, porco romano, nem que isso me custe uma escravidão!- Cuspiu no rosto dele.
-E pode custar!- ele sibilou, agarrando o outro braço dela.- Você não tem escolha, sua cadela...você precisa de um amo e, com Júpiter por testemunha, se não deitar na minha cama, vou possuí-la aqui mesmo, no chão!

Pollio tentou agarrar os seios de Boudica e o alfinete do ombro da túnica dela desprendeu-se. Nesse momento ela se recuperou do choque e se desprendeu dele. Vociferando Pollio tentou agarrá-la outra vez. Eles cambalearam para perto da lareira, Boudica o agarrou pelos pulsos e o atingiu na virilha com uma força brutal, enquanto ele se contorcia ela o empurrou para o fogo.

Num segundo o lugar foi invadido por soldados romanos armados.
-Peguem-na!
Os soldados arrastaram Boudica para fora da casa até o cercado. - Amarrem-na ali, e chicoteiem-na até sangrar!
Alguém rasgou a parte de trás de seu vestido, e amarrou seu cabelo com um cordão.
Boudica pensou incrédula "Os escravos eram chicoteados. Não as mulheres livres...nem as rainhas."
Boudica não gritou por si mesma, em meio a dor, enquanto o chicote estalava em suas costas......mas algo mudaria isso.

"Eu consigo suportar...., pensou, e depois me vingarei..."

Viu de soslaio que Rigana, sua filha mais velha, vinha correndo da casa das mulheres, brandindo uma lança.
-Soltem-na! - ela gritou, agachando-se e preparando-se para o ataque.
-Vejam, uma gladiadora!- Às gargalhadas, um dos homens apontou para Argantilla, a filha mais nova de Boudica, que se aproximava com um escudo.
-Voltem!- Boudica só conseguiu grunhir. - Voltem para dentro de casa!
Os soldados riram alto, as jovens não conseguiram ouvir a mãe. Enquanto isso as chicotadas continuavam...
-Quattuor, quinque...
Rigana avançou na direção de um soldado brandindo a lança. Ainda rindo, um dos legionários sacou a espada e desviou a lança com um golpe. Logo depois um homem agarrou-a pelas costas, enquanto o primeiro a desarmava.
-Arranque as garras dela...-disse Pollio irado, com os olhos ávidos ainda cravados em Boudica.- A leoa está acorrentada! Faça o que quiser com a leoazinha...e com a irmã dela...e que essas cadelas abram as pernas para Roma!
-NÃO!- gritou Boudica como não tinha gritado pela própria dor. -Não com minhas filhas, com elas não, por favor...-Ela perdeu o fôlego e o soldado retomou o trabalho de chicoteá-la.

Eles já tinham rasgado a túnica de Rigana que se debatia com os seios à mostra e dava pontapés violentos, quando um soldado puxou o resto da túnica e meteu as mãos entre as coxas dela.
-Sedecim....viginti...
As chicotadas estalavam rasgando o ar e as costas de Boudica..."Não com minhas filhas, não com meus bebês, não com minhas garotinhas..."
A carne açoitada retesou-se em ondas nauseantes. Fogo e sombra pulsavam atrás dos olhos dela.
Os homens já tinha as duas jovens no chão. Boudica se debateu e gemeu quando as filhas começaram a gritar. Não podia protegê-las...não conseguia soltar-se! Suas filhas amadas estavam sendo estupradas...
-Salve-as! Salve-me!- A fúria reprimida voltava-se para dentro dela, destruindo os limites da identidade.

E das profundezas...muito além da razão, ecoou uma Voz que ela ouvira muito tempo antes....

-Deixe-me...

O chicote açoitou-a, dividindo o eu do eu interior. Boudica tombou ainda presa pelas cordas à medida que a carne ferida e o espírito se soltavam.

E com um grito igual aos dos corvos dos campos de batalha, Morrigan acudiu.

Ela aprumou-se. As amarras foram partidas uma a uma. O sangue jorrava das costas feridas de Boudica quando Ela virou-se. Os homens recuaram, atônitos. Os soldados que retinham as jovens também recuaram. A Deusa agarrou o homem que estava em cima de Rigana e o arremessou para o lado, e arrebentou o outro que estava com Argantilla....
Então a vingança da Deusa começou........
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[Morrigan e Cúchulainn]

Muito do que se encontra sobre Morrigan na internet (como sobre outros assuntos que a gente pesquisa) é Ctrl+c Ctrl+v uns dos outros. Há pouca informação sobre ela...não vai muito além das correspondências e características básicas. O texto anterior é um resumo de uma das cenas onde Morrigan se manifesta no livro Os Corvos de Avalon (recomendadíssimooooo), que conta a história de Boudica, rainha dos icenii (icenos)...e de como ela quase conseguiu expulsar os romanos da Bretanha. É um romance histórico criado por Marion Zimmer (As Brumas de Avalon) e sua amiga Diana Paxson.

Morrigan está nas histórias do Ciclo de Ulster, onde ela aparece para Cúchulainn.
No Táin Bó Regamna (Invasão do gado em Regamain), ele a desafia, sem compreender o quê ela é, quando ela guia uma novilha por seu território, tornando-se seu inimigo:

Cuchulainn, como guardador e protetor de Ulster, observa uma mulher que conduzia uma carroça. Ao seu lado caminha um senhor e uma vaca presa por uma corda. Ao abordá-los, indaga ao homem como conseguiram a vaca. Quem responde é a mulher e ele irritado retruca:

-"Uma mulher não deve responder por um homem."

Volta-se novamente ao homem e pergunta seu nome. A mulher volta a responder por ele e Cuchulainn, totalmente fora de controle salta em cima dela e aponta a lâmina de sua espada para a cabeça da mulher. Nervosa, ela explica que recebera a vaca como presente por ter recitado um belo poema e que recitaria para ele se saísse de cima dela. Cuchulainn ouviu a declamação dos versos e quando se prepara para voltar a atacar a mulher, percebe que a carruagem e a mulher haviam desaparecido e em seu lugar ficou um corvo pousado em um galho que lhe diz que está ali "guardando a sua morte". Dessa vez, têm consciência que é a própria Deusa Morrigan e que ela veio avisá-lo que sua morte é iminente..

No Táin Bó Cuailnge a Rainha Medb de Connacht comanda uma invasão ao Ulster para roubar o touro Donn Cuailnge. Morrígan surge ao touro na forma de um corvo, e o previne para fugir. Cúchulainn defende o Ulster, travando no vau dum rio uma série de combates contra os campeões de Medb. Entre os combates, Morrígan lhe surge, com aparência de uma bela moça, oferecendo-lhe seu amor e auxílio na batalha - mas ele a rejeita. Como vingança ela interfere no seu próximo combate, primeiro assumindo a forma de uma enguia, fazendo-o tropeçar; depois, com a forma de uma loba, provocando um estouro da boiada, e finalmente como uma novilha que conduz o rebanho em fuga - tal como havia ameaçado em seu primeiro encontro.

Cúchulainn é ferido por cada uma das formas que ela assume mas, apesar disso, consegue ferir cada um dos animais. Ao final ela reaparece-lhe, como uma velha que trata-lhe os ferimentos causados por suas formas animais, enquanto ordenha uma vaca. Ela oferece a Cúchulainn três copos de leite. Ele a abençoa por cada um deles, e então as feridas da deusa também são curadas.

Antes de uma nova batalha contra os guerreiros de Connacht, Cathbad e Cuchulainn passeavam a margem do rio, quando avistaram a "Lavadeira do Vau", um tipo de mulher-fantasma que freqüenta as margens dos rios e arroios, chorando e lavando as roupas e as armas sujas de sangue, dos guerreiros que morrerão em combate.

Cathbad diz então:

-"Você vê Cuchulainn, a filha de Badb lavando seus restos mortais? É o prenúncio de sua morte!". Entretanto, Morrigan, talvez comovida com o trágico fim de Cuchulainn, desaparece com a carruagem de combate enquanto ele dormia. Mas nada o impedirá de ir de encontro ao seu já traçado destino. No dia seguinte, no fervor da batalha, Cuchulainn gravemente ferido, amarra-se ao pilar de uma pedra e segue lutando. Quando está próximo da morte, Morrigan aparece pela última vez, agora como um corvo que pousa no ombro do valente herói e depois salta ao solo para devorar as vísceras do corpo dilacerado de Cuchulainn.
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[Morrigan e o Dagda]

É dito que Morrigan é uma designação para a combinação de três deusas da guerra.
Às vezes surge como uma de três irmãs, as filhas de Emmas: Morrígan, Badb e Macha. Por vezes a trindade consiste em Badb, Macha e Nemain - coletivamente conhecidas como as Morrígan ("Terror" ou "Rainha Fantasma"), também escrita Mórrígan ("Grande Rainha")-(aka Morrígu, Mórríghean, Mór-Ríogain).

É uma deusa da guerra, da vingança e da morte. Do renascimento, do destino, da mudança e da justiça. É a protetora de todas as sacerdotisas e a que impulsiona os guerreiros para suas vitórias ou derrotas.
Há evidências arqueológicas do culto a Morrigu (como também é conhecida), desde a Era do Cobre nas regiões da Espanha, França, Portugal, Inglaterra e Irlanda. Inúmeras esculturas de uma mulher com cabeça de corvo, gralha ou falcão foram encontradas em sítios arqueológicos dessas regiões, e o corvo é o animal sagrado de Morrigu por excelência.

Morrigan também era tida como uma Deusa que fazia o transporte entre a vida e a morte, uma Deusa pássaro e uma deusa do Outromundo. Existem muitos contos antigos, chamados contos de fadas hoje, que narram a função psicopompe dos corvos...devorando não só os corpos em decomposição dos mortos, mas levando para o outro mundo também suas almas, tanto em campo de batalha como os sacrifícios humanos e mortos em geral (existem muitos vestígios arqueológicos do culto aos mortos onde o corpo da pessoa era deixado para que os corvos viessem e limpassem a carcaça).
A função de Morrigu claramente é variada, o que faz muitos historiadores acreditarem que ela acabou sofrendo uma fusão com atributos de outras inúmeras Deusas celtas menores.

Não existem muitas histórias sobre as origens de Morrigu. Alguns historiadores dizem que ela era conhecida como Moirah quando os Dannans desembarcaram na Irlanda. Era vista como uma Deusa donzela, que tinha suas próprias opiniões, e se apaixonou pelo jovem Dagda. Ela e Dagda se casaram e se uniram às margens do rio Boyne. Ela engravidou, mas como as águas do rio estavam sob os domínios Fomorianos, ao finalmente dar à luz, seu filho Mechi nasceu com três cabeças e deformado. Os druidas o sacrificaram para preservar seu povo, pois o recém-nascido seria o futuro rei e segundo a lei céltica um rei deformado ou mutilado não poderia governar. (lembra do Nuada da Mão de Prata?). Com isso, Moirah foi esconder-se na floresta. Ela permaneceu escondida durante muitos anos até que um dia surgiu usando uma capa com penas de corvos, duas espadas e com a habilidade de mudar de forma. Era uma guerreira habilidosa e nenhum homem ousava opor-se a Moirah, agora conhecida por um novo nome: Morrigu.

A união de Dagda e Morrigu ocorreu em Samhain, antes da batalha que conduziu os Tuatha de Dannan à vitoria contra os Fomorianos, que os dominavam. Quando Morrigu se uniu sexualmente com Dagda, o líder dos Tuatha, isso representou a união do Rei com a Terra, pois só dessa forma seria possível se fortalecer para vencer.

Lugh também foi considerado um dos consortes de Morrigu. Ela aparecia frequentemente nos mitos, na forma de corvo, sobrevoando Lugh e lhe dirigindo incentivos de força e segurança para que ele lutasse bravamente contra os Fomorianos.

Morrigan aparece frequentemente associada às Ben Síde, pelo irlandês moderno "Bean sídhe" ou "bean sí", significando algo como "fada mulher" (onde Bean significa mulher, e Sidhe, fada), ou ainda na forma de uma delas. As Banshee são seres míticos dos povos celtas que se aproximavam dos seres humanos para avisar a morte iminente de pessoas queridas com seus gritos e choros através das noites. Elas eram frequentemente vistas na beira de um rio lavando as roupas e armaduras dos guerreiros que morreriam.
Os povos célticos acreditavam que quando vemos corvos Morrigu está por perto. Guerreiros viam a presença dos corvos como um sinal de morte, ela era Morrigu em seu aspecto de "Lavadeira do Vau".
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[Músicas]


Omnia- Morrigan

Over hills and over meadows
see the crow fly, feel her shadow
Over woods and over mountains
searching for a war

Her wings embrace each strife and battle
where swords they clash and chariots rattle
seeking out the one whose time
has come to take the blade

Morrigan ancient crone of war
I see your face, I'll cry no more
Morrigan ancient crone of war
come lift me on your wings

Morrigan ancient crone of war
I hear your voice, I'll breathe no more
Morrigan ancient crone of war
come set my spirit free

Kill for Morrigan
Maim for Morrigan
Fight for Morrigan
and you will
Slay for Morrigan
Die for Morrigan
Morrigan crone of war
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Omnia- The Raven

Once upon a midnight dreary, while I pondered weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, tapping at my chamber door.
`'Tis some visitor,' I muttered, `tapping at my chamber door -
Only this, and nothing more.'

Ah, distinctly I remember it was in the bleak December,
And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.
Eagerly I wished the morrow; - vainly I had sought to borrow
From my books surcease of sorrow - sorrow for the lost Lenore -
For the rare and radiant maiden whom the angels named Lenore -
Nameless here forevermore.

And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
Thrilled me - filled me with fantastic terrors never felt before;
Presently, to still the beating of my heart, I stood repeating
`'Tis some visitor entreating entrance at my chamber door -
Some late visitor entreating entrance at my chamber door; -
Merely this, and nothing more,'

Out into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing,
Doubting, dreaming dreams no mortal ever dared to dream before
But the silence was unbroken, and the stillness gave no token,
And the only word there spoken was the whispered word, `Lenore!'
This I whispered, and an echo murmured back the word, `Lenore!'
Merely this and nothing more.

Back into the chamber turning, all my soul within me burning,
Soon again I heard a tapping somewhat louder than before.
`Surely,' said I, `surely that is something at my window lattice;
Let me see then, what thereat is, and this mystery explore -
Let my heart be still a moment and this mystery explore; -
'Tis the wind and nothing more!'

Open wide I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately raven of the saintly days of yore.
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;
But, with mien of lord or lady, perched above my chamber door -
Perched upon a bust of arice just above my chamber door -
Perched, and sat, and nothing more.

Soon that ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,
By the grave and stern decorum of the countenance it wore,
`Though thy crest be shorn and shaven, thou,' I said, `art sure no craven.
Ghastly grim and ancient raven wandering on the nightly shore -
Tell me what thy lordly name is on this Night's Plutonian shore!'
Quoth the raven, `Nevermore.'

Now the raven, sitting lonely on that placid bust, spoke only,
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing further then he uttered - not a feather then he fluttered -
Till I scarcely more than muttered `Other friends have gone before -
On the morrow will he leave me, as my hopes have flown before.'
Quoth the raven, `Nevermore.'

Then, methought, the air grew denser, perfumed by an unseen censer
Swung by Seraphim whose foot-falls tinkled on the tufted floor.
Once more, on the velvet sinking, I betook myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore -
What this grim, ungainly, ghastly, gaunt, and ominous bird of yore
Meant in croaking `Nevermore.'

`Prophet!' said I, `thing of evil! - prophet still, if bird or devil! -
Whether tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,
Desolate yet all undaunted, on this desert isle enchanted -
On this home by horror haunted - tell me truly, I implore -
Is there - is there balm in Gilead? - tell me - tell me, I implore!'
Quoth the raven, `Nevermore.'

`Prophet!' said I, `thing of evil! - prophet still, if bird or devil!
By that Heaven streched above us - by that God we both adore -
Tell this soul with sorrow laden if, within the distant Aidenn,
It shall clasp a sainted maiden whom the angels named Lenore -
Clasp a rare and radiant maiden, whom the angels named Lenore?'
Quoth the raven, `Nevermore.'

`Be that word our sign in parting, bird or fiend!' I shrieked upstarting -
`Get thee back into the tempest of the Night's Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie thy soul hath spoken!
Leave my loneliness unbroken! - quit the bust above my door!
Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!'
Quoth the raven, `Nevermore.'

Now the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of arice just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming,
And the lamp-light o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Will be lifted - nevermore!



[Fontes]

Google xD
Wikipédia
Os Corvos de Avalon
Todas as Deusas do Mundo
Rosane Volpatto

[Os Gibichungs...]

[Brunhild beija o Anel dos Nibelungos]

[capítulos anteriores...]
[1] Brunhild- A valkyrja que desafiou Odin
[2] Mas o que aconteceu à Sieglind?
[3] O encontro entre Siegfried e Brunhild


No grande salão imperial dos Gibichungs, no feudo regido pelo rei Gunther, acontecia uma reunião familiar. Nele estavam reunidos o rei, sua irmã Gutrune e o meio irmão dos dois, Hagen, o filho do anão Alberich e da rainha. Todos estão envolvidos numa discussão sobre como almentar o poder e as riquezas que já possuem em larga escala. Hagen, o filho do anão, tenta convencer seus irmãos, aparentando ele próprio estar completamente desinteressado em qualquer ganho pessoal, de que eles poderiam melhorar sua aparência diante do grande quadro da estirpe dos Gibichungs (os filhos de Gibich).

Hagen propõe que Gutrune se case com o herói Siegfried, pois esse seria um casamento afortunado, visto que nas veias de Siegfried supostamente corria sangue divino.
E para Gunter, Hagen propõe que este se case com Brunhild, ela própria uma ex-valkyrja, detentora dos tesouros que seu amante Siegfried deixara para ela.

Ora! Mas todos sabiam que Brunhild e Siegfried era amantes, e que um não deixaria o outro por qualquer pessoa que seja, fosse rei ou rainha. Indignaram-se então, Gutrune e Gunther, com seu irmão Hagen, por estar-lhes criando ilusões e desejos impossíveis.

-Impossível isso....impossível aquilo.- diz Hagen, quase perdendo a compostura. - E se vos disser que graças à meu pai tenho em meu poder uma poção capaz de fazer Siegfried esquecer-se de Brunhild? Tendo Siegfried esquecido sua amada, nós ofereceremos a mão de Gutrune para que ambos se casem! Siegfried não a recusará, pois Gutrune é uma bela mulher e possui muitas riquesas e um reino!

-Bem, e quanto a mim?- perguntou Gunther, ele próprio sem poder escutar muito tempo sobre a felicidade alheia sem antepor a sua própria.

-Tendo casado com Gutrune, peça-lhe que vá em busca de Brunhild e a traga para vós! Apenas ele pode atravessar o anel de fogo que Loki ali deixou para protegê-la. Então casando-vos com Brunhild, herdarás seu tesouro!

Gunther e Gutrune ficaram então mais esperançosos com os planos de Hagen...

-Mas como faremos para encontrá-lo? Dizem que ele anda atrás de aventuras pelo mundo.
-Siegfried está prestes a chegar às terras do Reno. Não demora muito e ele baterá em nossos portões. Fiquem atentos para que quando ele chegar, possamos fazer-lhe uma bela recepção. Gutrune o receberá com uma taça da poção que o fará esquecer Brunhild e se apaixonar perdidamente por Gutrune. Uma vez rendido seu amor, basta apenas convencê-lo para que traga Brunhild para Gunther, e junto com ela seu tesouro.

"quanto a mim..., pensa Hagen,...terei em minhas mãos o Anel dos Nibelungos...."

A reunião se encerra desta maneira, cada um dos irmãos partindo para seus quartos, felizes. Mas o mais feliz de todos é sem dúvida Hagen...vendo frutificar seus planos ardilosos.

E então mais uma vez a roda do destino gira pela ambição do Anel...e apenas o mal pode advir disso...
[Gutrune oferece a taça à Siegfried]

Siegfried é então recebido com todas as pompas de um herói. Adimirado com toda a festa e cortejo ele se dirige ao rei. Mas é Hagen quem fala primeiro com ele, dando as boas vindas:
-Salve grande Siegfried! Bravo herói dos germanos!
-Seja bem vindo ao meu reino! São suas estas terras, meu castelo e meus vassalos!- diz cortezmente Gunther.
Siegfried então, reconhecendo a majestade do rei, curva-se sem nenhum constrangimento, feliz por toda a recepção...sentindo-se pela primeira vez reconhecido como um grande herói.

-Soberando, nada tenho em meu poder para oferecer-vos, a não ser meu braço e minha espada.
Hagen sem poder se conter se adianta e pergunta:
-Mas e o tesouro? Não é então verdade que você derrotou o dragão Fafner e tomou posse do tesouro dos Nibelungos?
-Ele nada significa para mim- diz Siegfried, indiferente- Deixo-o na caverna aos cuidados de minha amada Brunhild.
-Mas nada trouxe consigo do fabuloso tesouro?
-Apenas este elmo, mas não posso usá-lo.
-Apenas este elmo? -exclama Hagen estupefato.- Este é o famoso elmo de Tarn! Que pode metamorfosear seu dono em qualquer coisa que o deseje! Foi graças a ele que Fafner pode se metamorfosear no dragão que você derrotou! Além disso pode levá-lo aonde quiser e ainda acha isso pouca coisa?!

Siegfried parecia alheio ao falatório de Hagen...preferia ficar observando maravilhado a natureza e o povo que o recebia com tanta alegria. -Então sou tão grande assim?- pergunta-se ele, sem poder acreditar no próprio sucesso.

-E o que mais trouxe do tesouro?- pergunta Hagen, retirando Siegfried de seu momento de alegria.- Por acaso não achou um pequeno anel?
-Ah sim, mas deixei-o com Brunhild em penhor do meu amor.

Siegfried é conduzido pelo cortejo ao salão do trono, cercado sempre por Gutrune e Hagen, que não o deixavam só. Durante a recepção, Gutrune se adianta e lhe oferece uma taça:
-Beba valoroso herói! Aceite das mãos de uma princesa esta taça de olorosa bebida.- diz ela pondo todo encanto em sua voz.- Beba-a em homenagem a sua amada Brunhild.

Por um momento Siegfried pensa em sua amada e então bebe da taça. Mas esta não é outra senão a poção maligna de Hagen. Ele se sente um pouco tonto e logo suas lembranças de Brunhild desaparecem, ficando apenas diante de si a imagem da bela Gutrune.

-Vejo que se agradou de minha irmã.- exclamou Gunther. Siegfried não responde, mas seu sorriso o denuncia.
-Eu também trago meu coração inquieto, meu amigo, e anseio por conquistar uma bela mulher, da mais nobre estirpe que possa haver, visto que é filha de um deus!- começa Gunther.
-Filha de um deus....-sussurra Siegfried, ainda grogue do efeito da bebida enfeitiçada.
-Sim, ela vive num rochedo cercada por um fogo mágico...-continua.- Apenas um herói pode atravessá-lo. Se você me ajudar a conquistá-la, Siegfried, eu estaria disposto a recompensá-lo com o bem que mais desejasse!
Siegfried observa Gutrune colocada estratégicamente à sua frente.
-Eu o ajudarei, nobre Gunther, a desposar esta mulher- responde Siegfried por fim.- Usarei o elmo mágico e me metamorfosearei em ti e a conquistarei!

E assim Hagen se adianta para selar o pacto com o sangue de Gunther e Siegfried. No mesmo dia eles seguem Reno acima enquanto Hagen fica a esperar com Gutrune no castelo o regresso.
Sozinho na sala do trono, Hagen, o filho do nibelundo, entrega-se aos seus planos malignos e ao prazer de ver que tudo está saindo como o planejado:
-Em breve meus irmãozinhos estarão com suas aliançazinhas idiotas....mas eu terei em meu dedo, finalmente, o anel dos nibelungos!

[continua...]