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sábado, 9 de abril de 2011

[O Outono e a Colheita Interior]

A alma redime e transfigura tudo porque é espaço divino. Quando você habita plenamente sua solidão e experimenta seus isolamentos extremos e abandono, descobre que em seu centro não há abandono nem vazio, só intimidade e refúgio. Na solidão você se encontra mais próximo da comunhão e da afinidade que em sua vida social ou na multidão. Nesse nível, a memória é a grande amiga da solidão. Quando se envelhece, começa a colheita da memória. Sua personalidade, crenças e função são na realidade uma técnica ou uma estratégia, para atravessar a rotina diária. Quando se está livre de seus próprios medos, e quando se desperta durante a noite, se pode aflorar o conhecimento verdadeiro. Se pode intuir o equilíbrio secreto da alma. Quando se percorre a distância interior até o divino, a distância interior desaparece. Paradoxalmente, a confiança em sua comunhão interior altera drásticamente sua comunhão exterior. Não encontrar comunhão em sua solidão equivale a ter sua esperança exterior permanentemente sedenta e desesperada. No outono de sua vida se colhe sua experiência. É um belo pano de fundo para compreender o envelhecimento. Não é simplesmente um processo no qual seu corpo perde sua postura, força e confiança em si mesmo. Ele também te convida a adiquirir conciência do círculo sagrado que envolve sua vida. Dentro do círculo da colheita se pode recorrer á momentos e vivências passadas e reuní-las em seu coração. Na realidade, se aprende a conceber o envelhecimento, não como a morte do corpo, mas como a colheita de sua alma, e verá que este pode ser um tempo de grande força, segurança e confiança. Ao compreender a colheita de sua alma no marco do ciclo sazonal, tem-se uma sensação de serena alegria pela chegada desta época em sua vida. Este momento deve dar-te forças e permitir que te alerte como se revelará a comunhão profunda do mundo de sua alma. O corpo envelhece, se debilita e enferma, mas a alma que o rodeia sempre o protege com grande ternura. É um grande consolo saber que o corpo se encontra dentro da alma. [[_l_]] Anam Cara - John O'Donohue

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

[O Mundo Celta Como Ressonância]


Frequentemente, penso que o mundo interior é como uma paisagem. Aqui, na nossa paisagem de calcário, existem surpresas infindáveis. É encantador estar no alto de uma montanha e descobrir uma nascente jorrando por baixo de rochas pesadas.
Essa fonte possui uma longa biografia de trevas e silêncio. Provém do centro da montanha, que nenhum olhar humano jamais contemplou. A surpresa da fonte sugere as reservas arcaicas de consciência despertando dentro de nós. Com um súbito frescor, novos mananciais animam-se no íntimo.

O silêncio da paisagem esconde uma vasta presença. O lugar não é simplesmente uma localidade. Lugar é uma intensa individualidade. Sua textura superficial de relva e pedra é abençoada pela chuva, vento e luz. Com total atenção, a paisagem celebra a liturgia das estações, entregando-se sem reservas à paixão da Deusa. A configuração de uma paisagem é uma forma antiga e silenciosa de consciência. As montanhas são enormes contemplativos. Os rios e regatos apresentam voz; eles são lágrimas de alegria e desespero da terra. A terra está repleta de alma.

[Longstone of Punchestown]

A civilização subjugou o lugar. O chão é nivelado para construir casas e cidades. As estrada, ruas e pisos são planos para que possamos caminhar e viajar com facilidade. Deixada a si mesma, a curvatura da paisagem convida a presença e lealdade da quietude. Na distração do viajante e do temporário, sua antiga existência passa despercebida. Sob a superfície da paisagem, a terra vive na noite eterna, o escuro e antigo berço de toda origem.

Não é de admirar que, no mundo celta, as nascentes sejam lugares sagrados. As nascentes eram consideradas limiares entre o mundo subterrâneo desconhecido, escuro e mais profundo, e o mundo exterior de luz e forma. O solo da Irlanda era compreendido, no tempo antigo, como o corpo da Deusa. As nascentes eram reverenciadas como aberturas especiais por onde fluía a divindade. Manannán mac Lir disse: "Ninguém obterá conhecimento a menos que beba da nascente". Ainda hoje as pessoas visitam as fontes sagradas. Elas caminham várias vezes em torno de uma nascente, deslocando-se no sentido dos ponteiros do relógio, e frequentemente deixam oferendas votivas. Julga-se que fontes diferentes contém espécies diferentes de cura.

[Chalice Well - Glastonbury]

Quando uma nascente desperta na mente, novas possibilidades começam a fluir, e descobre-se, no íntimo, uma profundidade e arrebatamento que nunca se soube possuir. Com frequência permanecemos exilados, deixados de fora do mundo rico da alma, simplesmente porque não estamos prontos. Nossa tarefa é refinar o coração e a mente. Existe tanta benção e beleza perto de nós, que se destinam a nós, mas que no entanto, não podem entrar na nossa vida, porque não estamos prontos para recebê-las. A maçaneta está no lado interno da porta; somente nós podemos abri-la.

[[_|_]] Retirado do livro Anam Cara